“Será que vou conseguir aprender as novas disciplinas? Vou perder meus amigos de classe? Os professores são malvados?”. Questões como essas costumam afligir os jovens que estão prestes a deixar o Ensino Fundamental para entrar no Ensino Médio. A inquietação tem uma justificativa, afinal, a maneira como essa transição é enfrentada pode determinar a continuidade ou não dos estudos. Só para ter noção, de acordo com o Censo Escolar de 2011, 18,1% dos jovens repetiram o 1º ano da última etapa da Educação Básica e 11% abandonaram a escola justamente nessa série – o que a torna campeã histórica de reprovação e evasão no País.
“Esse é um momento muito importante! A faixa etária dos 15 anos é de muita mudança na vida dos adolescentes... É o corpo que está mudando, a namoradinha ou namoradinho que surge, e isso toma muito a energia deles. Nesse momento, os adolescentes estão voltados para a revolução que está acontecendo nos seus hormônios e junto com isso vem o Ensino Médio”, explica Teresa Spinassé, Coordenadora Pedagógica da escola Ilha Florescer.
Entre as principais queixas dos alunos está a sensação de incapacidade para aprender os novos conteúdos, já que o número de disciplinas é maior, bem como a falta de acolhimento da escola e da família. Teresa afirma que essa sensação tem certo fundamento, já que a escola dá mais autonomia para o aluno – até mesmo como parte da dinâmica do Ensino Médio – e a família também deixa de acompanhar de perto as atividades do filho. Isso é ingrediente para que o aluno acabe se perdendo nessa nova rotina de estudos.
“Independente se o aluno ficar na mesma escola em que está habituado, muita coisa muda. A relação com os professores muda, a quantidade das matérias aumenta. Por causa da dinâmica desse segmento, os professores ficam menos em cima e alguns alunos tendem a se perder. No Ensino Fundamental existe o olhar dos pais e do professor para saber se fez o dever, se está estudando. Até o nono ano, os responsáveis gostam de fazer esse acompanhamento mais de perto. E no Ensino Médio há uma mudança de atitude, o ritmo é outro. Então, se o menino não corre atrás e amolece um pouco o corpo, ele acaba se perdendo”, diz a coordenadora.
Bem vindo ao próximo nível
Para o aluno ter uma transição tranquila e manter a motivação para os estudos, é preciso repensar o papel da escola nas duas pontas do processo, especialmente se ele estuda na rede pública, quando o Ensino Fundamental é responsabilidade do município e o Médio é gerido pelo poder estadual. É importante manter o olhar diferenciado a cada aluno para demonstrar preocupação, interesse e cuidado individualmente. E em casa, a família continua tendo papel fundamental no processo de transição.
“A família não pode achar que acabou o acompanhamento, é preciso conversar sobre a escola, estar de olho. Por sua vez, a escola também precisa acompanhar, prestar atenção e acolher o aluno. Existe, até em excesso, uma pressão social para o Vestibular logo que o aluno entra no Ensino Médio, mas um menino de 15 anos ainda tem muitas dúvidas, ele não está preparado para essa escolha”.